por Ir. Pedro Dimond, O.S.B.
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Aqueles que sofreram uma lavagem cerebral dos apologistas da teoria do baptismo de desejo talvez terão uma surpresa em saber que, de todos os Padres da Igreja, somente um pode ser apresentado pelos defensores do baptismo de desejo como alguém que tenha ensinado o conceito. É mesmo isso: apenas um, Santo Agostinho. Os defensores do baptismo de desejo farão uma fraca tentativa de apresentar um segundo Padre, Santo Ambrósio, como veremos mais adiante; mas mesmo que isto estivesse correcto, seriam apenas dois de centenas de Padres que poderiam ser citados por terem alguma vez especulado acerca do conceito do baptismo de desejo. Então, o que devemos dizer acerca das seguintes afirmações dos sacerdotes da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X (FSSPX), que escreveram três livros diferentes sobre “baptismo de desejo”?
Pe. Jean-Marc Rulleau (FSSPX), Baptismo de Desejo, pág. 63: “Este baptismo de desejo compensa a falta do baptismo sacramental... A existência deste modo de salvação é uma verdade ensinada pelo Magistério da Igreja e adoptada desde os primeiros séculos por todos os Padres. Nenhum teólogo católico jamais a contestou.”1
Pe. Francois Laisney (FSSPX), É o Feeneismo Católico?, pág. 79, sobre o baptismo de desejo: “Não só é o ensinamento comum, mas ensinamento unânime; é assim não somente desde os princípios do presente milénio, mas desde o princípio da Igreja…”2
Estas declarações são totalmente falsas e gravemente mentirosas que deturpam o ensinamento da Tradição e corrompem a fé das pessoas, como veremos. Os Padres são unânimes contra o conceito de que qualquer pessoa (inclusive um catecúmeno), possa salvar-se sem o baptismo de água, como demonstrei. No entanto, examinemos o ensinamento do único Padre, Santo Agostinho, que de facto expressou crença (pelo menos por vezes) na ideia de que um catecúmeno pode salvar-se sem o Sacramento do Baptismo pelo seu desejo por este.
SANTO AGOSTINHO (354-430)
Santo Agostinho é citado a favor do conceito do baptismo de desejo. Porém, ele esteve admitidamente em conflito nesta questão, por vezes opondo-se claramente à ideia de que catecúmenos não-baptizados podem alcançar a salvação, e outras vezes apoiando-a.
Santo Agostinho, 400: “Que o sofrimento por vezes possa tomar o lugar do Baptismo é apoiado por um argumento substancial que o mesmo bem-aventurado Cipriano concebe… Ponderando isto vezes sem conta, penso que não só o sofrimento pelo nome de Cristo pode suprir aquilo que falta por meio do Baptismo, mas que até a fé e a conversão do coração, se… não se puder recorrer à celebração do Mistério do Baptismo.”3
Há dois pontos interessantes acerca desta passagem. O primeiro refere-se ao baptismo de sangue: note que Santo Agostinho disse que a sua crença no baptismo de sangue apoia-se numa inferência ou argumento de São Cipriano, não em algo baseado na Tradição dos Apóstolos ou dos romanos pontífices. Como já vimos, várias das conclusões de São Cipriano provaram-se bastante incorrectas — para utilizar termos simpáticos —, tal como a sua “conclusão,” de que era de “Tradição Apostólica,” que os hereges não podem conferir o Baptismo. Portanto, Santo Agostinho revela aqui um ponto muito importante: que até mesmo a sua crença no baptismo de sangue tem suas raízes numa especulação humana falível, não na revelação divina ou na tradição infalível. Ele admite que poderia estar errado, e, de facto, está.
Em segundo lugar, quando Santo Agostinho conclui que também crê que a fé (isto é, fé no catolicismo) e um desejo pelo Baptismo poderiam ter o mesmo efeito do martírio, ele diz: “Ponderando isto vezes sem conta…”. Ao dizer que ponderou isto por diversas vezes, Santo Agostinho está a admitir que a sua opinião sobre o baptismo de desejo é algo que surgiu da sua própria especulação, não da Tradição ou ensinamento infalível. É algo com o qual ele esteve admitidamente em conflito e se contradisse, como será demonstrado. Tudo isto serve para provar, uma vez mais, que o baptismo de desejo, tal como o baptismo de sangue, é uma tradição do homem, fruto de especulação humana errónea e falível (apesar de proveniente de alguns grandes homens), e não enraizada em ou derivada de alguma tradição dos Apóstolos ou dos papas.
Curiosamente, no mesmo conjunto de obras sobre o Baptismo já citadas, Santo Agostinho cometeu um erro diferente, que mais tarde corrigiu em seu Livro de Retratações. Nesse conjunto de obras, tinha originalmente declarado que o Bom Ladrão, que morreu na cruz ao lado de Nosso Senhor, foi um exemplo de baptismo de sangue. Ele corrigiu posteriormente isto, afirmando que o Bom Ladrão não poderia ser utilizado como um exemplo do baptismo de sangue, porque não sabemos se o bom ladrão foi alguma vez baptizado.4 Mas na realidade, o Bom Ladrão não pode ser utilizado como um exemplo do baptismo de sangue sobretudo porque o Bom Ladrão morreu sob a Antiga Lei, não sob a Nova Lei; morreu antes de a lei do Baptismo ter sido instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo depois da Ressurreição. Por essa razão, o caso do Bom Ladrão, tal como o dos Santos Inocentes, não pode constituir argumento contra a necessidade de receber o Sacramento do Baptismo para a salvação.
Catecismo do Concílio de Trento, Baptismo feito obrigatório depois da Ressurreição de Cristo, pág. 231: “Todos os escritores eclesiásticos concordam em dizer que foi depois da Ressurreição de Nosso Senhor, quando Ele ordenou aos Apóstolos: ‘Ide, ensinai todos os povos, baptizai-os em nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo.’ Desde então, começou a vigorar a lei do Baptismo para todos os homens, que queiram alcançar a eterna salvação.”5
De facto, quando Nosso Senhor disse ao Bom Ladrão: “hoje estarás comigo no paraíso,” Jesus não se referia ao Céu, mas na realidade ao Inferno. Tal como é sabido pelos católicos, ninguém entrou no Céu antes de Nosso Senhor ter entrado primeiro, depois da Sua Ressurreição. No dia da Crucificação, Cristo desceu aos Infernos, como diz o Credo dos Apóstolos. Ele não desceu ao Inferno dos condenados, mas ao lugar no Inferno chamado o Limbo dos Padres, o lugar de espera dos justos do Antigo Testamento, os quais não podiam entrar no Céu até que viesse o Salvador.
1 Pedro 3:18-19 — “Porque também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados... Com este mesmo espírito ele também foi pregar aos espíritos que estavam no cárcere...”
Há um facto que comprova ainda mais que o Bom Ladrão não foi para o Céu no dia da Crucificação: no Domingo da Ressurreição, quando Maria Madalena encontrou-se com o Senhor ressuscitado, Ele lhe disse: “Não me retenhas, porque ainda não subi para meu Pai.”
João 20:16-17 — “[No dia da Ressurreição] Jesus disse-lhe: ‘Maria!’ Ela voltando-se, disse-lhe em hebreu: Rabbouni (que quer dizer Mestre). Jesus disse-lhe: Não me retenhas, porque ainda não subi para meu Pai…”
O Nosso Senhor nem sequer tinha ascendido ainda ao Céu no Domingo da Ressurreição. Portanto, é um facto que Nosso Senhor e o Bom Ladrão não estavam juntos no Céu na Sexta-feira Santa; estavam no Limbo dos Padres, a prisão descrita em 1 Pedro 3:18-19. Jesus chamou este lugar de “paraíso” porque Ele estaria lá com os justos do Antigo Testamento. Então, Santo Agostinho, como posteriormente admitiu, cometeu um erro ao tentar utilizar o Bom Ladrão como um exemplo para este ponto. Isto demonstra, uma vez mais, que só o ensinamento dogmático dos papas é infalível, assim como a Tradição universal e constante. Porém, o próprio Santo Agostinho, afirma em muitas e muitas ocasiões a Tradição universal dos Apóstolos de que ninguém se salva sem o Sacramento do Baptismo; e, de facto, ele negou várias vezes a ideia de que um catecúmeno pode ser salvo somente com o desejo do Baptismo sem a recepção do Sacramento.
Santo Agostinho, 395: “… Deus não perdoa os pecados excepto aos baptizados.”6
Santo Agostinho, 412: “… Os cristão púnicos não chamam ao Baptismo de outra coisa que não salvação… De onde se deriva, excepto de uma tradição antiga e, suponho eu, apostólica, pela qual as Igrejas de Cristo crêem inerentemente que sem Baptismo e participação na mesa do Senhor é impossível a qualquer um alcançar o reino de Deus ou a salvação e a vida eterna? Este é o testemunho também da Escritura.”7
Santo Agostinho, 391: “Quando nos encontrarmos perante a Sua vista [de Deus], contemplaremos a eqüidade da justiça de Deus. Então ninguém dirá: (…) ‘Por que este homem foi guiado por direcção de Deus a ser baptizado, enquanto que aquele homem, apesar de ter vivido apropriadamente como um catecúmeno, foi morto num desastre repentino e não foi baptizado?’ Procure por recompensas; não encontrarás outra coisa que não castigos.”8
Aqui vemos Santo Agostinho a rejeitar completamente o conceito de baptismo de desejo. Nada poderia ser mais claro! Ele diz que Deus mantém vivos os catecúmenos sinceros até que sejam baptizados, e que aqueles que procuram por recompensas em tais catecúmenos não-baptizados não encontrarão outra coisa que não punições! Santo Agostinho até põe especial ênfase em afirmar que o Todo-Poderoso não permite que os catecúmenos não-baptizados morram, excepto por uma razão! Aqueles que dizem que Santo Agostinho defendeu o baptismo de desejo, portanto, simplesmente não estão a ser coerentes com os factos. Eles precisam adicionar a reserva de que ele, em várias ocasiões, rejeitou a ideia e esteve em ambos os lados da questão. Portanto, o único Padre que os defensores do baptismo de desejo podem citar a favor do conceito (Santo Agostinho), na realidade negou o conceito de baptismo de desejo várias vezes.
Santo Agostinho: “Por maior que seja o progresso que o catecúmeno faça, ele traz consigo o fardo da sua iniquidade: nem é este apagado dele ao menos que venha ao Baptismo.”9
Aqui vemos Santo Agostinho afirmando novamente a verdade Apostólica de que ninguém entra no Céu sem o baptismo de água e negando mais uma vez explicitamente o conceito de baptismo de desejo, ao negar que um catecúmeno pode livrar-se do pecado sem o Baptismo. Tudo isto demonstra que o baptismo de desejo não constitui a Tradição universal dos Apóstolos; ao invés disso, a Tradição universal dos Apóstolos e dos Padres é precisamente o oposto: que nenhum catecúmeno pode ser salvo sem o baptismo de água.
SANTO AMBRÓSIO (340-397)
De entre as centenas de Padres da Igreja, o único outro que os defensores do baptismo de desejo sequer tentam citar é Santo Ambrósio. Crêem que, em seu discurso fúnebre ao seu amigo (o imperador Valentiniano), ele ensinou que o imperador (que era apenas um catecúmeno) tinha se salvado pelo seu desejo do Baptismo. Mas o discurso fúnebre de Santo Ambrósio para Valentiniano é extremamente ambíguo e pode ser interpretado de diversas maneiras. Portanto, trata-se de uma asserção injustificada quando eles afirmam que este ensina claramente a ideia do baptismo de desejo.
Santo Ambrósio, Oração Fúnebre proferida no funeral de Valentiniano II, século IV: “Porém, ouço-vos a lamentar por ele não ter recebido os sacramentos do Baptismo. Dizei-me: o que mais está em nós que não o poder de desejar, de pedir? Mas ele até tinha este desejo há tanto tempo, que, quando viesse a Itália, seria iniciado... Não tem ele, pois, a graça que deseja? Não tem ele a graça que pediu? Certo é que recebeu aquilo que pediu. De onde provém o que está escrito: Porém o justo, ainda que seja acometido pela morte prematura, estará em descanso (Sb. 4:7)… Ou se isto vos comove: não terem sido celebrados os mistérios com solenidade; nem sequer mártires são coroados se eram catecúmenos; de facto, não são coroados, se não foram iniciados. No entanto, se são lavados em seu próprio sangue, esta piedade e desejo lavaram-no também.”10
Reflitamos por momentos sobre aquilo que ele disse. Todos os fiéis congregados para o serviço memorial lamentavam-se e encontravam-se de luto. Por que lamentavam-se? Porque não há evidência de que Valentiniano, um conhecido catecúmeno, tenha sido baptizado. Mas se o baptismo de desejo fosse algo contido no Depósito de Fé e fizesse parte da Tradição Apostólica, por que motivo lamentavam-se? Acaso Valentiniano não desejava sinceramente ser baptizado? Contudo, esses fiéis estavam movidos de dor porque todos tinham sido ensinados, e portanto criam, que “quem não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus” (João 3:5). Todos tinham sido ensinados que ninguém é salvo sem o Sacramento do Baptismo. O professor dessas pessoas era o seu bispo, Santo Ambrósio.11
Por outro lado, a oração fúnebre de Santo Ambrósio por Valentiniano é extremamente ambígua, como é óbvio para qualquer um que leia o que foi acima citado. Em seu discurso, Santo Ambrósio diz claramente que “nem sequer mártires são coroados [isto é, não são salvos] se eram catecúmenos,” uma afirmação que nega directamente a ideia de baptismo de sangue e é perfeitamente consistente com as suas outras afirmações sobre esta questão, que serão citadas. Ambrósio depois enfatiza o mesmo ponto, dizendo novamente que os catecúmenos “não são coroados, se não foram iniciados.” A “iniciação” é um termo que significa Baptismo. Por conseguinte, Santo Ambrósio está a repetir a verdade Apostólica de que os catecúmenos que derramam seu sangue por Cristo não podem salvar-se se não são baptizados. Ele então procede dizendo que se eles são lavados em seu próprio sangue, esta piedade e desejo (de Valentiniano) também o lavaram, o que parece contradizer directamente o que acaba de dizer e parece ensinar o baptismo de desejo e de sangue, apesar de não ser claro, visto ele não ter dito que Valentiniano salvou-se sem o Baptismo. Mas se isto foi o que Santo Ambrósio quis dizer, então a sua oração fúnebre não faz sentido, visto que já tinha negado claramente duas vezes que os mártires podem ser coroados se forem catecúmenos. E este é o “texto” mais antigo citado a favor da ideia de baptismo de desejo! É, antes de tudo o mais, contraditório; em segundo lugar, é ambíguo; e em terceiro lugar, se interpretado no sentido de que um catecúmeno é salvo sem o baptismo de água, opõe-se a todas as outras declarações que Santo Ambrósio fez formalmente sobre a questão.
Mas talvez haja outra explicação. Santo Ambrósio afirma que os fiéis lamentavam-se porque Valentiniano não recebera os sacramentos do Baptismo. Por que usou o termo “sacramentos” ao invés de “sacramento”? Estaria ele lamentando o facto de que Valentiniano não pôde receber a Confirmação e a Eucaristia, que eram comummente administrados juntamente com o Baptismo na Igreja Primitiva? Isto corresponderia à sua declaração sobre a multidão estar perturbada porque os mistérios não foram celebrados “com solenidade” ou, por outras palavras, com todas as cerimónias formais que precedem a celebração solene do Baptismo. Exactamente o que Santo Ambrósio quis dizer neste discurso, pode ser que nunca o saibamos neste mundo, mas é-nos permitido assumir que não era a sua intenção, num tributo carregado de emoções, contradizer o que tinha escrito com muita reflexão e precisão em De mysteriis e em outros lugares.12
Curiosamente, o famoso teólogo do século XII, Pedro Abelardo, cuja ortodoxia é no entanto suspeita em outros pontos, assinala que se Santo Ambrósio alguma vez ensinou o baptismo de desejo “ele contradisse a tradição nesta matéria,”13 sem mencionar o seu próprio ensinamento que repete a necessidade do Sacramento do Baptismo, como veremos abaixo.
Segue-se o que Santo Ambrósio escreveu com muita reflexão e precisão, o que elimina o próprio conceito de baptismo de desejo e afirma a Tradição universal de todos os Padres que ninguém (inclusive catecúmenos) se salva sem o baptismo de água.
Santo Ambrósio, De mysteriis, 390-391 d.C.: “Igualmente lestes, pois, que os três testemunhos no Baptismo são um: água, sangue e Espírito, e se um destes é retirado, o Sacramento do Baptismo não é válido. O que é, pois, a água sem a cruz de Cristo? Um simples elemento sem qualquer efeito sacramental. Por outro lado, nem tampouco há mistério da regeneração sem água: porque ‘quem não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus’ [João 3:5]. Até um catecúmeno crê na cruz do Senhor Jesus, pela qual ele próprio é assinalado; no entanto, ao menos que seja baptizado em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo, não pode receber a remissão dos pecados nem o dom da graça espiritual.”14
Aqui vemos Santo Ambrósio a negar claramente o conceito de baptismo de desejo. Nada poderia ser mais claro que isto!
Santo Ambrósio, Sobre o Ofício dos Ministros, 391 d.C.: “A Igreja foi redimida pelo preço do sangue de Cristo. Judeu ou grego, não há diferença; mas se creu, necessita de ser ele próprio circuncidado dos seus pecados para que possa ser salvo; (…) pois, ninguém ascende ao Céu excepto pelo Sacramento do Baptismo.”15
Santo Ambrósio, Sobre o Ofício dos Ministros, 391 d.C.: “‘Quem não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus.’ Ninguém é excepção: nem a criança, nem aquele impedido por alguma necessidade.”16
Ao contrário de São Cirilo de Jerusalém e São Fulgêncio, que numa ocasião particular mencionaram que havia excepções a João 3:5 somente no caso de mártires, Santo Ambrósio não admite excepções, excluindo desta forma o baptismo de desejo e o baptismo de sangue.
E com isto chegamos ao fim do ensinamento dos Padres sobre o assim-chamado “baptismo de desejo”! É isso mesmo. Somente um ou, no máximo, dois de centenas de Padres podem sequer ser citados: Santo Agostinho e Santo Ambrósio. Santo Agostinho admitiu que estava em conflito nesta questão, contradisse a si mesmo acerca desta, e o mais importante, afirmou frequentemente a Tradição universal de que ninguém — mesmo o catecúmeno — entra no Céu sem o Baptismo. E Santo Ambrósio negou diversas vezes, clara e repetidamente, o conceito do baptismo de desejo, ao negar que — inclusive o catecúmeno — possa salvar-se sem renascer da água e do Espírito no Sacramento do Baptismo.
E conhecidos estes factos, pode-se ver o quão enganados e iludidos estão muitos dos assim-chamados católicos e católicos tradicionalistas que dão ouvidos a esses professores mentirosos, muitos dos quais apresentam-se como sacerdotes “tradicionalistas,” que procuram em terra e mar por algo para tentar perverter o ensinamento da Tradição e convencer os outros de que é possível chegar ao Céu sem o Baptismo. Estes mentirosos professores convencem muitos da mentira ridícula de que “os Padres eram unânimes a favor do baptismo de desejo.” Tal afirmação é puro absurdo e uma perversão mortalmente pecaminosa da tradição católica. Como um autor disse correctamente:
“Os Padres da Igreja, portanto, tomados em seu conjunto, só se pode dizer que confirmaram definitivamente o ensinamento oficial e autêntico da única verdadeira Igreja de que é absolutamente necessário para a salvação de toda criatura humana ser baptizado na água do sacramento real instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo. Por outro lado, é intelectualmente desonesto sugerir o contrário. E exaltar as opiniões pessoais de uns poucos teólogos — mesmo que seja um conjunto impressionante e bastante conhecido — face à Tradição eclesiástica ou até à infalibilidade magisterial, é não somente um imaturo malabarismo verbal, mas também uma espécie de miopia superficial, moralmente inadmissível em qualquer estudo sério de Teologia Patrística.”17
A Tradição universal dos Apóstolos sobre a necessidade absoluta do baptismo de água para a regeneração e salvação, afirmada por Hermas logo no século I, e repetida por todos os outros, inclusive São Justino Mártir, São Teófilo, Orígenes, Tertuliano, São Basílio, São Cirilo, Santo Agostinho, Santo Ambrósio, etc., etc., etc., resume-se na declaração já citada de Santo Ambrósio.
Santo Ambrósio: “Por outro lado, nem tampouco há mistério da regeneração sem água: porque ‘quem não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus’ [João 3:5]. Até um catecúmeno crê na cruz do Senhor Jesus, pela qual ele próprio é assinalado; no entanto, ao menos que seja baptizado em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo, não pode receber a remissão dos pecados nem o dom da graça espiritual.”18
Este é o ensinamento unânime dos padres da Igreja sobre esta questão.
Pe. William Jurgens: “Se não houvesse uma tradição constante nos Padres de que a mensagem evangélica de ‘quem não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus’ deve ser interpretada em absoluto, seria fácil dizer que o Nosso Salvador simplesmente não considerou oportuno mencionar as excepções óbvias da ignorância invencível e da impossibilidade física. Mas a tradição, de facto está lá; e é provável que seja encontrada tão constante a ponto de constituir revelação.”19
SÃO GREGÓRIO DE NAZIANZO (329-389)
É apropriado também examinar o ensinamento de alguns dos outros Padres. São Gregório de Nazianzo é um dos quatro grandes Doutores Orientais da Igreja Católica. Ele rejeitou explicitamente o conceito de baptismo de desejo.
São Gregório de Nazianzo, 381 d.C.: “De todos os que não são baptizados, alguns são completamente animalescos ou bestiais, dependendo de serem tolos ou malignos. Isto, penso eu, devem acrescentar aos seus outros pecados: que eles não têm nenhuma reverência por este dom, mas o consideram como qualquer outro dom a ser aceite se lhes derem, ou rejeitado se não lhes derem. Outros conhecem e honram o dom; porém, diferem-no, alguns por descuido, alguns por desejo insaciável. Outros, ainda, não são capazes de o receber, talvez por causa da infância, ou alguma outra circunstância perfeitamente involuntária que lhes impede de receber o dom, mesmo que o desejem…
“Se vós fosseis capazes de julgar um homem que tem a intenção de cometer um homicídio, somente pela sua intenção e sem o acto do homicídio, então também poderíeis reconhecer como baptizado a quem desejou o Baptismo, sem ter recebido o Baptismo. Mas, uma vez que não podeis fazer aquele, como poderíeis fazer este? Eu não vejo como. Se preferis, digamos desta maneira: se na vossa opinião o desejo tem o mesmo poder que o Baptismo real, então fazei o mesmo juízo a respeito da glória. Estarieis então satisfeito por esperar pela glória, como se essa espera fosse a glória mesma. Sofreis algum dano por não alcançar a glória real, desde que tenhais o desejo dela?”20
E ainda há gente que se atreve a dizer que “os Padres são unânimes” a favor do baptismo de desejo! Quando os sacerdotes da FSSPX asseveram isto publicamente, eles estão a dizer exactamente o oposto da verdade e a mentir com todos os dentes. E o que faz que esta mentira seja muito mais incrível, é o facto de que a FSSPX cita a declaração anterior de São Gregório nas páginas 64-65 de seu livro, É o Feeneismo Católico?!
Eis o que a liturgia disse sobre o ensinamento do grande São Gregório de Nazianzo, o qual rejeitou claramente o baptismo de desejo. No Breviário Romano, uma lição para a festa de São Gregório de Nazianzo (9 de Maio) declara:
Breviário Romano, 9 de Maio: “Ele [São Gregório] escreveu muito, tanto em prosa como em verso, com uma admirável piedade e eloquência. Na opinião de homens sábios e santos, não se encontra nada em seus escritos que não seja conforme à verdadeira piedade e fé católica, ou que alguém pudesse razoavelmente pôr em dúvida.”21
Este facto bastante significativo refuta totalmente os defensores do baptismo de desejo/sangue que argumentam que o ensinamento do Breviário prova que os homens podem salvar-se sem o Baptismo (o que já vimos que não é verdade). São Gregório de Nazianzo rejeitou claramente o baptismo do desejo (veja acima), e o Breviário diz aqui que não há nada em seus escritos que não é conforme à religião católica ou que se possa pôr em dúvida! Portanto, se considerarmos o ensinamento do Breviário como infalível sobre matérias teológicas, então teríamos de rejeitar o baptismo de desejo. Como disse John Daly, um defensor do baptismo de desejo: “E, obviamente, os teólogos consideram impossível que haja erro teológico no Breviário…” (2 de Setembro de 2006). Parece que este defensor do baptismo de desejo terá de rejeitar o baptismo de desejo ou revisar os seus argumentos (esperemos que seja a primeira). São Gregório foi de facto o único Doutor em toda a história da Igreja a ser apelidado de “o teólogo.”
O famoso abade beneditino Dom Próspero Guéranger: “É Gregório [de Nazianzo]… o que entre todos os Gregórios mereceu e obteve nome de Teólogo, pela robustez de sua doutrina, pela elevação dos seus pensamentos, pelo esplendor de sua exposição.”22
E nisto se encerra a mentira de que “os teólogos” são unânimes a favor do baptismo de desejo. O único Doutor na história da Igreja que é apelidado de “o teólogo,” rejeitou-o explicitamente!
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO (340-407)
Para além de São Gregório e outros, São João Crisóstomo nos proporciona uma grande quantidade de citações explicitamente contra a ideia de salvação para os catecúmenos não-baptizados (aqueles que se preparam para receber o Baptismo) pelo baptismo de desejo. Que alguém mais para além dos catecúmenos não-baptizados pudessem ser qualificados para salvação sem antes receber o Sacramento do Baptismo não era sequer considerado uma possibilidade que valesse a pena refutar neste contexto. (Quão horrorizados ficariam estes Padres pela versão moderna da teoria do baptismo de desejo, que afirma ser possível salvarem-se pagãos, judeus, hereges e cismáticos?).
São João Crisóstomo, O Consolo da Morte: “E bem deve lamentar-se o pagão, que não conhecendo a Deus, ao morrer, vai directamente para o castigo. Bem deve o judeu lamentar, que não crendo em Cristo, assinalou a própria alma para a perdição.”23
Cabe assinalar que dado que o termo “baptismo de desejo” não era utilizado naquele período, não encontraremos São João Crisóstomo ou qualquer outro Padre a rejeitar explicitamente este termo. Eles rejeitam o baptismo de desejo quando rejeitam o conceito de que os catecúmenos não-baptizados podem salvar-se sem o Baptismo, como São João Crisóstomo faz repetidamente.
São João Crisóstomo, O Consolo da Morte: “E claramente devemos lamentarmo-nos pelos nossos próprios catecúmenos, caso aconteça de, ou por sua própria incredulidade ou por negligência própria, deixarem esta vida sem a graça salvífica do Baptismo.”24
Esta declaração rejeita claramente o conceito de baptismo de desejo.
São João Crisóstomo, Hom. In o. 25, 3: “O catecúmeno é um estrangeiro aos olhos dos fiéis… (…) Um tem a Cristo por seu Rei; o outro ao pecado e ao demónio; a comida de um é Cristo; a do outro, aquela carne que se corrompe e perece (…) E posto que não temos nada em comum, em quê, digam-me, havemos de ter comunhão? (…) Sejamos então diligentes para tornarmo-nos cidadãos da cidade que está nas alturas(…) mas se uma morte imprevista (que Deus não permita!) vier a retirar-nos deste mundo, antes de termos recebido o Baptismo, mesmo que tivéssemos mil virtudes, toda a sorte de boas obras, nosso quinhão não será outro que não o Inferno, e o verme venenoso, a chama inextinguível, e o cativeiro eterno.”25
Esta declaração rejeita totalmente o conceito de baptismo de desejo.
São João Crisóstomo, Homilia III. De Phil. 1, 1-20 : “Chorai pelos incrédulos; chorai pelos que nem num ápice diferem deles e deixam este mundo sem a iluminação, sem o selo! De facto merecem os vossos gemidos e prantos; eles estão fora da corte celeste... com os condenados. ‘Em verdade, vos digo, se alguém não renascer da água e do Espírito, não entrará no reino dos céus.’”26
O “selo” é o termo dos Padres para referir-se à marca do Sacramento do Baptismo, como já vimos. E aqui vemos São João a afirmar a verdade Apostólica mantida por todos os Padres: ninguém — inclusive um catecúmeno — é salvo sem ter renascido da água e do Espírito no Sacramento do Baptismo. São João Crisóstomo rejeitou claramente toda possibilidade de salvação para quem não recebeu o Sacramento do Baptismo. Ele afirmou as palavras de Cristo em João 3:5 com uma compreensão inequivocamente literal, que é o ensinamento unânime da Tradição e o ensinamento do dogma católico definido.
A TRADIÇÃO LITÚRGICA E A TRADIÇÃO FÚNEBRE APOSTÓLICA
Para além destes claros testemunhos dos Padres contra a teoria do baptismo de desejo, talvez o mais impressionante de tudo é o facto de que na história da Igreja Católica não há sequer uma tradição que se possa citar de oração por — ou de dar enterro eclesiástico a — catecúmenos que morrem sem o Baptismo. A Enciclopédia Católica (1907) diz o seguinte sobre a verdadeira tradição da Igreja a esse respeito:
“Uma certa declaração na oração fúnebre de Santo Ambrósio sobre o Imperador Valentiniano II foi apresentada como uma prova de que a Igreja oferecia sacrifícios e orações pelos catecúmenos que morriam antes do Baptismo. Não há vestígio em parte alguma de tal costume… A prática da Igreja é mais correctamente apresentada no cânon (XVII) do segundo Concílio de Braga (572 d.C.): ‘Decretamos que, para catecúmenos mortos sem a redenção do Baptismo, nem a comemoração do Sacrifício [oblationis] nem o ofício do canto [psallendi] deve ser empregue.’”27
Eis aqui o ensinamento da tradição católica! Catecúmeno nenhum que morria sem o Sacramento do Baptismo recebia oração, sacrifício ou enterro cristão! O Concílio de Braga, em 572 d.C., proibiu oração pelos catecúmenos que morriam sem o Baptismo. O Papa São Leão Magno e o Papa São Gelásio já tinham anteriormente confirmado a mesma disciplina da Igreja — que era a prática universal —, proibindo os católicos de rezarem pelos catecúmenos que morreram sem ser baptizados.28 Isto significa que, na Igreja primitiva, a crença era que não havia tal coisa como baptismo de desejo. A teoria do baptismo de desejo não se tornou crença generalizada até antes da Idade Média, quando São Tomás de Aquino e outros teólogos eminentes a adoptaram, o que fez com que muitos teólogos subsequentemente aderissem à posição por deferência a eles; uma posição sobre a possibilidade de salvação de catecúmenos que morreram sem o Baptismo que era contrária à crença avassaladoramente maioritária e à tradição litúrgica da Igreja primitiva; e isto sem sequer mencionar o ensinamento infalível posterior da Igreja sobre a Escritura em João 3:5.
O verdadeiro ensinamento da Tradição apostólica e católica sobre este tema também se vê no ensinamento da liturgia católica, no qual todos os católicos que participavam do culto na Igreja primitiva confessavam e criam: a saber, que nenhum catecúmeno ou pessoa não-baptizada era considerada parte dos fiéis (confira a secção sobre “A Única Igreja dos Fiéis”). Que os catecúmenos não fazem parte dos fiéis era a posição de todos os Padres porque esta era ensinada a todos os católicos na liturgia.
Dr. Ludwig Ott, Manual de Teologia Dogmática, Qualidade de membro da Igreja, pág. 309: “3. Os Padres traçam uma clara linha de divisão entre os catecúmenos e ‘os fiéis.’”29
Isto significa que nenhuma pessoa não-baptizada pode salvar-se, porque o dogma católico definiu que ninguém se salva fora da única Igreja dos fiéis.
Papa Gregório XVI, Summo iugiter studio, 27 de Maio de 1832, sobre não haver salvação fora a Igreja: “Os actos oficiais da Igreja proclamam o mesmo dogma. Portanto, no decreto sobre a fé que Inocêncio III publicou com o quarto sínodo de Latrão, está escrito o seguinte: ‘E uma só é a Igreja universal dos fiéis, fora da qual absolutamente ninguém se salva.’”30
PAPA SÃO SIRÍCIO (384-398)
Em 385 d.C., o Papa São Sirício emitiu um decreto a Himério. Trata-se do mais antigo decreto papal da história que sobreviveu ao tempo. O decreto a Himério foi promulgado com toda a plenitude da autoridade papal de Sirício. Neste documento, ele invoca várias vezes a suma autoridade do cargo de São Pedro. Ele diz que este decreto é vinculativo a todas as igrejas, a todos os bispos e a todos os sacerdotes. Um decreto sobre a lei da Igreja não pode ser mais autoritário do que este do Papa Sirício a Himério. Segue-se o que ele diz.
Papa São Sirício, Decreto a Himério, 385 d.C.:
LATIM: “Sicut sacram ergo paschalem reverentiam in nullo dicimus esse minuendam, ita infantibus qui necdum loqui poterunt per aetatem vel his, quibus in qualibet necessitate opus fuerit sacra unda baptismatis, omni volumus celeritate succurri, ne ad nostrarum perniciem tendat animarum, si negato desiderantibus fonte salutari exiens unusquisque de saeculo et regnum perdat et vitam.”
“Assim como dizemos que a santa observância pascal em nada deve ser diminuída, dizemos de igual modo que às crianças que, por causa da sua idade, não sejam capazes de falar, e àqueles que em qualquer inevitabilidade precisem da santa corrente do Baptismo, sejam todos socorridos com celeridade, não vá de acontecer que isto tenda para a perdição das nossas almas, caso seja negada a fonte salvífica àqueles que a desejam e cada um destes que deixe o mundo perca tanto o Reino quanto a vida.”
“Quicumque etiam discrimen naufragii, hostilitatis incursum, obsidionis ambiguum vel cuiuslibet corporalis ægritudinis desperationem inciderint, et sibi unico credulitatis auxilio poposcerint subveniri, eodem quo poscunt momento temporis expetitæ regenerationis pæmia consequantur. Hactenus erratum in hac parte sufficiat; nunc præfatam regulam omnes teneant sacerdotes, qui nolunt ab apostolicæ petræm super quam Christus universalem construxit Ecclesiam, soliditate divelli.”
“A quem vir de acontecer encontrar-se no perigo de naufrágio, incursão de um inimigo, incerteza de um cerco [militar] ou desespero de qualquer doença corporal, e ele próprio procure ser socorrido pelo único auxílio de fé, que o mesmo receba os prémios da mui solicitada regeneração no momento em que a pedir. Quanto aos erros acerca disto, que bastem; a partir de agora, todos os sacerdotes que não queiram ser separados da solidez desta pedra apostólica sobre a qual Cristo construiu a Sua Igreja universal, que mantenham esta referida regra.”
Como podemos ver, ele ensina autoritariamente que, mesmo que aqueles adultos catecúmenos que desejam o Baptismo morram antes de o receberem, não serão salvos. Isto rejeita total e completamente a ideia de “baptismo de desejo.” Ele também ensina que o Sacramento do Baptismo é o único auxílio para a sua salvação, e que, se houver algum perigo, devem ser baptizados imediatamente. Portanto, aqueles que pregam que as pessoas que desejam o baptismo de água podem ser salvas sem o receber, contradizem a regra da fé católica. Aqueles que pregam outro caminho à salvação que não mediante a recepção da fonte salvífica do baptismo de água contradizem a regra de fé católica. Tal como proclama o decreto do Papa, receber o baptismo de água é o unico auxilio. Unico, que é uma forma de unicus, significa “singular; sem outro da sua espécie; inigualável; exclusivo.” Não pode haver alternativas, não pode haver algum outro tipo de baptismo. Receber o baptismo de água é o caminho exclusivo, único para ser salvo — para crianças, para aqueles que o desejam ou estejam em algum tipo de apuro, necessidade, padeçam de alguma doença, etc. Este é o ensinamento do Papa São Sirício.
Neste preciso contexto, ele fala acerca do costume de adiar os baptismos de adultos até o tempo Pascal. O tempo Pascal é quando a Ressurreição é celebrada. Uma vez que o Baptismo é uma ressurreição do estado de condenação para uma nova vida em Cristo (confira Colossenses 2:12; Romanos 6:3-4; etc.), tornou-se costume celebrar o Baptismo de um converso adulto no tempo Pascal, após os catecúmenos não-baptizados terem sido submetidos a um período de teste e instrução em preparação para a vida cristã. Como prova este e outros decretos, o costume de adiar o Baptismo de adultos até o tempo Pascal não era incompatível com a posição — e com o ensinamento infalível da Igreja — de que todos aqueles que se preparam para o Baptismo iriam de facto perder-se se morressem antes de recebê-lo. Ninguém pode ser salvo sem o Baptismo, como declara Jesus em João 3:5 e a Igreja infalivelmente ensina. Deus pode e irá manter vivas as almas sinceras e de boa vontade até o Baptismo. É Ele quem está no controlo.
A prática de baptizar os adultos convertidos no tempo Pascal — e o costume de prolongar o catecumenado — era disciplinar. Não era um requisito de Tradição Apostólica, como vemos no capítulo 8 do Livro dos Actos. Neste, lemos que Filipe baptizou o Eunuco de Candace após uma breve discussão acerca dos conteúdos elementares da fé cristã. Portanto, enquanto declara que a santa observância Pascal deve ser continuada, Sirício acrescenta que se os catecúmenos não-baptizados em questão se encontrarem em qualquer situação de necessidade que seja, devem ser baptizados com toda a celeridade, isto é, com toda a prontidão ou imediatamente. Ele depois explica o porquê da sua insistência neste ponto. Declara que eles têm de ser baptizados imediatamente em qualquer tipo de necessidade, “não vá de acontecer que isto tenda para a perdição das nossas almas, caso seja negada a fonte salvífica àqueles que a desejam e cada um destes que deixe o mundo perca tanto o Reino quanto a vida.” O Papa ensina que todos os que desejam o baptismo de água, mas que morrem sem recebê-lo, não serão salvos. Isto refuta a ideia do “baptismo de desejo.”
A IDADE MÉDIA
Agora que já demonstrámos que o ensinamento da Tradição definitivamente não favorece o baptismo de desejo, perguntemo-nos: de onde vem todo este furor do baptismo de desejo que agora vemos? Por que motivo se transformou numa crença tão difundida? O baptismo de desejo nunca foi ensinado à toda a Igreja por nenhum concílio, definição dogmática ou encíclica papal. Mas a maioria das pessoas hoje em dia crêem que é um ensinamento da Igreja Católica. Como já foi dito, a teoria vem de um ensinamento erróneo de Santo Agostinho e de uma passagem ambígua de Santo Ambrósio no século quarto. Mas devido à enorme estatura de Santo Agostinho como teólogo, muitos na Idade Média adoptaram a sua opinião falível sobre o baptismo de desejo, apesar de ser contrária à crença maioritária na Igreja primitiva. E quando os ilustres São Bernardo e São Tomás de Aquino fizeram da teoria do baptismo de desejo a sua própria posição baseando-se em passagens de Santo Agostinho e na passagem ambígua de Santo Ambrósio, sucedeu-se que inúmeros teólogos desde a Idade Média e até aos nossos dias, adoptaram subsequentemente o baptismo de desejo por deferência à grande erudição destes (particularmente à de São Tomás); uma posição sobre a possível salvação dos catecúmenos que morrem sem o Baptismo que era contrária à crença maioritária e à tradição litúrgica da Igreja primitiva, sem sequer falar do ensinamento infalível posterior da Igreja sobre o Sacramento do Baptismo, de João 3:5 e do único Baptismo, como veremos.
SÃO BERNARDO
São Bernardo, Tractatus de baptismo, II, 8, c. 1130: “Seria difícil para mim, admito, separar-me desses dois pilares — refiro-me a Agostinho e Ambrósio. Juntamente com eles, seja no erro ou no saber, confesso: creio que um homem mesmo com a fé somente pode salvar-se, desde que tenha o desejo de receber o sacramento, caso a morte antecipe o cumprimento do seu piedoso desejo, ou qualquer outra força invencível o impeça.”31
Há uma série de pontos muito importantes nesta passagem: Em primeiro lugar, vemos que São Bernardo admite explicitamente que a sua crença no baptismo de desejo baseia-se somente naquilo que ele crê que Santo Agostinho e Santo Ambrósio ensinaram, dando ainda mais credibilidade ao nosso ponto de que o baptismo de desejo é uma tradição humana, não um ensinamento de Deus. E como já vimos, mesmo os dois Padres que ele cita (Agostinho e Ambrósio) negaram claramente o conceito ao afirmarem várias vezes que nenhum catecúmeno pode salvar-se sem o Sacramento do Baptismo. De facto, como já foi dito — e vale a pena repetir —, o Pe. Jean-Marc Rulleau (da FSSPX) vê-se impelido a admitir no seu livro Baptismo de Desejo (pág. 37) que nos tempos de São Bernardo, quando a ideia do baptismo de desejo realmente começou a ganhar força, baseada nas passagens de Santo Agostinho e no discurso fúnebre de Santo Ambrósio por Valentiniano, o conhecido Pedro Abelardo (cuja ortodoxia é, no entanto, suspeita em outros pontos) afirmou que qualquer ideia de baptismo de desejo baseada em Santo Ambrósio “contradiz a tradição nesta matéria.”32 Portanto, não se trata somente do facto de ele basear a sua opinião em dois doutores falíveis, mas também de ele apresentar uma opinião que é claramente contrária ao testemunho maioritário da Tradição, como demonstrei.
Em segundo lugar, e talvez o mais importante, ao expressar a sua crença no baptismo de desejo, São Bernardo admite explicitamente que pode estar equivocado!
São Bernardo: “… refiro-me a Agostinho e Ambrósio. Juntamente com eles, seja no erro ou no saber, confesso: creio que um homem mesmo com a fé somente pode salvar-se, desde que tenha o desejo de receber o sacramento…”
Mas quando o Pe. François Laisney, da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, cita esta passagem de São Bernardo em seu livro É o Feeneismo Católico? (pág. 67), ele omite deliberadamente a declaração de São Bernardo, “seja no erro ou no saber…” Segue-se a passagem como ela aparece em seu livro É o Feeneismo Católico?:
“Seria difícil para mim, admito, separar-me desses dois pilares, pelos quais refiro-me a Agostinho e Ambrósio. (...) crendo com eles que uma pessoa pode salvar-se com a fé somente e o desejo de receber o sacramento…”
As palavras “seja no erro ou no saber” foram eliminadas pelo Pe. Laisney e substituídas por reticências – “(…)”. Ora, é de certo perfeitamente justificável a utilização de reticências – “(…)” – quando se está a citar textos, para que se omita as partes da citação que não são cruciais ou necessárias à discussão. Mas, neste caso, os leitores do livro do Pe. Laisney ficariam bem servidos em constatar esta breve e crucial admissão de São Bernardo: de que ele poderia estar correcto ou enganado sobre o baptismo de desejo. O Pe. Laisney eliminou-a deliberadamente porque sabe que é devastadora para a sua contenda baseada na opinião dos santos de que o baptismo de desejo é um ensinamento da Igreja. Esta admissão de São Bernardo, de facto, destrói a tese do livro do Pe. Laisney; portanto, era necessário tirá-la. Mas apesar da tentativa do Pe. Laisney da FSSPX de esconder isto dos seus leitores, o facto está aí para todos verem: São Bernardo admite que não tinha certeza acerca do baptismo de desejo, posto que a ideia não é baseada em nenhum ensinamento da Igreja ou tradição infalível, senão somente na opinião humana.
Em terceiro lugar, como já foi afirmado, é um facto incrível que em quase todos os casos em que um santo ou teólogo expressa a sua opinião a favor do baptismo de desejo ou de sangue, ele quase sempre comete um outro erro no mesmo documento (provando assim a sua falibilidade). No documento citado acima, São Bernardo usa três vezes a expressão “fé somente” ao referir-se à salvação (conceito o qual foi condenado posteriormente cerca de treze vezes pelo Concílio de Trento no século XVI).
São Bernardo, Tractatus de baptismo, II, 8, c. 1130: “Seria difícil para mim, admito, separar-me desses dois pilares — refiro-me a Agostinho e Ambrósio. Juntamente com eles, seja no erro ou no saber, confesso: creio que um homem mesmo com a fé somente pode salvar-se, desde que tenha o desejo de receber o sacramento, caso a morte antecipe o cumprimento do seu piedoso desejo, ou qualquer outra força invencível o impeça. (…) isto dá a entender que a fé somente por vezes é suficiente para a salvação (…) igualmente, a fé somente e a mente virada para Deus, sem a efusão de sangue, e sem a perfusão de água, sem dúvida opera a salvação em quem tem a vontade, mas não os meios… de ser baptizado.”33
Papa Paulo III, Concílio de Trento, sessão 6, cân. 9: “Se alguém disser, que o ímpio se justifica somente com a Fé; entendendo, que nada mais se requer que coopere para conseguir a graça da justificação; e que não é necessário por parte alguma, que ele disponha, prepare com o movimento da sua vontade: seja excomungado.”34
Papa Paulo III, Concílio de Trento, sessão 7, cân. 8: “Se alguém disser, que pelos mesmos Sacramentos da nova Lei se não confere graça [ex opere operato]; mas que a Fé da divina promessa somente basta para conseguir a graça: seja excomungado.”35
Papa Paulo III, Concílio de Trento, sessão 6, cân. 19: “Se alguém disser, que no Evangelho não há nada de preceito senão Fé… seja excomungado.”36
Papa Paulo III, Concílio de Trento, sessão 6, cáp. 11: “Portanto, ninguém se deve lisonjear por ter só a Fé, entendendo que com a Fé só está constituído herdeiro, e que conseguirá a herança, ainda que não padeça com Cristo para ser conglorificado (Rom. 8:17).”37
Papa Paulo III, Concílio de Trento, sessão 6, cap. 10: “‘Vedes como pelas obras se justifica o homem, e não pela Fé só’ (Tg. 2:24).”38
Tenho a certeza que São Bernardo na realidade não cria que a fé somente justifica e salva (a doutrina herética de Lutero); mas esta é a expressão que ele utiliza três vezes! Isto faz sobressair o ponto com bastante clareza: que se alguém começar a dogmatizar o ensinamento dos santos (como gostam de fazer muitos propugnadores do baptismo de desejo) e citá-los fora do contexto, então essa pessoa irá acabar com um bom bocado de erros, ou até heresia. E isto demonstra, uma vez mais, que as afirmações de São Bernardo não são o ensinamento da Igreja Católica, mas opiniões falíveis acerca das quais ele poderia estar errado (como ele mesmo admite), e, neste caso, acerca das quais ele está definitivamente errado.
Em quarto lugar, ao expressar a sua opinião sobre o baptismo de desejo, São Bernardo diz que um indivíduo pode ser impedido de receber o Baptismo por um “poder invencível.” Isto também é teologicamente incorrecto. Deus é omnipotente; só Ele é o “poder invencível”! Ninguém Lhe pode impedir de conduzir uma alma de boa vontade ao Baptismo.
Papa Pio IX, Primeiro Concílio do Vaticano, ex cathedra: “Mas tudo o que Deus criou, Ele pela Sua providência guarda e governa, ‘estende-se poderosa desde uma extremidade à outra, e dispõe todas as coisas com suavidade’…”39
E, ironicamente, ao fazer a declaração anteriormente citada acerca de um catecúmeno que se veja impedido de receber o Baptismo por algum “poder invencível,” São Bernardo também contradiz directamente Santo Agostinho, o mesmo que ele usa para sustentar a sua opinião falível sobre o baptismo de desejo.
Santo Agostinho, 391: “Quando nos encontrarmos perante a Sua vista [de Deus], contemplaremos a equidade da justiça de Deus. Então ninguém dirá: (…) ‘Por que este homem foi guiado por direcção de Deus a ser baptizado, enquanto que aquele homem, apesar de ter vivido apropriadamente como um catecúmeno, foi morto num desastre repentino e não foi baptizado?’ Procure por recompensas; não encontrarás outra coisa que não castigos.”40
Tudo isto é prova de que a aceitação do baptismo de desejo por parte de São Bernardo era defeituosa, contraditória, admitidamente falível e baseada exclusivamente naquilo que ele cria serem as opiniões de certos homens. Não tem qualquer valor face ao indefectível, perfeitamente consistente e infalível dogma que proclama que nenhum homem pode ser salvo sem o Sacramento do Baptismo.
Papa Eugénio IV, Concílio de Florença, “Exultate Deo,” 22 de Novembro de 1439, ex cathedra: “O primeiro lugar entre os sacramentos o ocupa o santo Baptismo, que é a porta da vida espiritual; por ele nos fazemos membros de Cristo e do corpo da Igreja. E havendo pelo primeiro homem entrado a morte em todos, ‘se não renascermos pela água e o Espírito’ como diz a Verdade, ‘não podemos entrar no reino dos céus’ [João 3:5]. A matéria deste sacramento é água verdadeira e natural.”41
E esta tradição humana (o baptismo de desejo) ganhou mais impulso depois de São Bernardo, quando São Tomás de Aquino lamentavelmente adoptou-a baseando-se também ele em algumas passagens de Santo Agostinho, numa única passagem de Santo Ambrósio e no seu próprio raciocínio especulativo teológico.
SÃO TOMÁS DE AQUINO
São Tomás de Aquino, apesar de todos os seus fabulosos escritos e inigualável erudição sobre a fé católica, sendo ele um homem falível, estava errado em vários pontos, inclusive na sua afirmação na Summa Theologica em que declara explicitamente que “A carne da Virgem foi concebida em pecado original.”42 Um estudioso assinalou que o livro que São Tomás estava a escrever quando morreu chamava-se Compêndio de Teologia, e que nele se encontram pelo menos nove erros explícitos.43 De facto, “por trinta anos, o Dr. Andre Daignes, professor de Filosofia em Buenos Aires, Argentina, apontou 24 erros formais na Summa de São Tomás.”44 Isto demonstra simplesmente que algumas das especulações teológicas de até mesmo os nossos maiores teólogos canonizados, são simplesmente isso — especulações falíveis. Somente São Pedro e seus sucessores, os papas, quando falam desde a Cátedra de Pedro, têm a fé infalível.
Papa Pio IX, Primeiro Concílio do Vaticano, Sessão 4, Cap. 4, ex cathedra: “Portanto, esta dádiva da verdade E DE UMA FÉ INFALÍVEL FOI DIVINAMENTE CONFERIDA A PEDRO E A SEUS SUCESSORES DESTA CÁTEDRA…”45
Na Summa Theologica p. III, q. 66, a. 11, São Tomás trata de explicar a sua crença no baptismo de desejo e de sangue. Ele tenta explicar como pode haver “três baptismos” (água, sangue e desejo) quando São Paulo declara, em Efésios 4:5, que só há um. Ele diz:
“Os outros dois baptismos são incluídos no baptismo de água, que deriva a sua eficácia da Paixão de Cristo e do Espírito Santo.”46
Com todo o respeito devido a São Tomás, trata-se de uma fraca tentativa de tentar responder à objecção de como pode haver “três baptismos” quando Deus revelou que há apenas um. É uma fraca tentativa porque São Tomás diz que os outros dois baptismos, de desejo e de sangue, estão incluídos no baptismo de água; mas isto é falso. Uma pessoa que recebe o baptismo de água não recebe o baptismo de desejo e o baptismo de sangue, inclusive conforme a opinião dos defensores do baptismo de desejo. Por conseguinte, é falso dizer, como o faz São Tomás, que os outros dois baptismos estão incluídos no baptismo de água; eles certamente não estão.
Além do mais, ao ensinar a teoria do baptismo de desejo, São Tomás admite repetidas vezes que nenhum deles é um sacramento.
São Tomás de Aquino, Summa Theologica, III, q. 66, a. 11, resposta 2: “Como dissemos anteriormente, o sacramento é uma espécie de sinal. Os outros dois baptismos [baptismo de desejo e de sangue], no entanto, são semelhantes ao baptismo de água, não, de facto, na natureza de sinal, mas no efeito baptismal. Por conseguinte, não são sacramentos.”47
O feroz defensor do baptismo de desejo Pe. Laisney, admite o mesmo em seu livro É o Feeneismo Católico?, pág. 9:
Pe. Laisney, É o Feeneismo Católico?, pág. 9: “O baptismo de desejo não é um sacramento; não tem o sinal exterior que se requer nos sacramentos. Os teólogos, seguindo São Tomás… o chamam ‘baptismo’ só porque produz a graça do Baptismo… mas não produz o carácter sacramental.”48
Mas o Concílio de Trento (poucos séculos depois de São Tomás, em 1547) definiu infalivelmente como dogma que O SACRAMENTO DO BAPTISMO é necessário para a salvação!
Papa Paulo III, Concílio de Trento, Sessão 7, cân. 5 sobre o Sacramento do Baptismo, ex cathedra: “Se alguém disser, que o baptismo [o sacramento] é livre, e não é necessário para a salvação (João 3:5): seja excomungado.”49
Portanto, a quem devemos seguir? São Tomás ou o infalível Concílio de Trento? Compare ambos:
São Tomás de Aquino, Summa Theologica, III, q. 68, a. 2: “… parece que sem o Sacramento do Baptismo outros podem obter salvação mediante a santificação invisível…”
Papa Paulo III, Concílio de Trento, Sessão 7, cân. 5 sobre o Sacramento do Baptismo, sessão 7, 1547, ex cathedra: “Se alguém disser, que o baptismo [o sacramento] é livre, e não é necessário para a salvação (João 3:5): seja excomungado.”50
Há aqui uma contradição patente. O falível São Tomás de Aquino disse que é possível obter a salvação sem o Sacramento do Baptismo, enquanto que o infalível Concílio de Trento define que o sacramento é necessário para a salvação. E o que significa “necessário”? Segundo a Parte III, q. 68, a. 2, obj. 3 da Summa Theologica do próprio São Tomás, “necessário é aquilo que sem o qual algo não pode ser (Metafísica V).”51 Portanto, “necessário” significa aquilo que sem o qual uma coisa não pode existir. Logo, salvação não pode existir — é impossível — sem o Sacramento do Baptismo (de fide, Concílio de Trento). Os católicos devem aceitar esta verdade e rejeitar a opinião falível de São Tomás sobre o baptismo de desejo na Summa Theologica.
Papa Bento XIV, Apostolica (#6), 26 de Junho de 1749: “… é por isso que o parecer de um único, ainda que santo e celebradíssimo Doutor, deve em todo o caso ceder ao sentimento da Igreja...”52
Papa Pio XII, Humani generis (#21), 12 de Agosto de 1950: “E o divino Redentor confiou a interpretação autêntica desse depósito não a cada um dos fiéis, nem mesmo aos teólogos, mas somente à Autoridade Magisterial da Igreja.”53
Papa São Pio X, Pascendi Dominic Gregis, (#45), 8 de Setembro de 1907: “Escusado será dizer que se alguma coisa é tratada entre os doutores escolásticos com excesso de subtileza, ou destituída por completo de probabilidade, Nós não temos qualquer desejo de propô-la para imitação pelas presentes gerações.”54
E se alguém mantém que se pode receber o Sacramento do Baptismo sem água, cito a definição do Concílio de Trento no cânon 2.
Papa Paulo III, Concílio de Trento, can. 2 sobre o Sacramento do Baptismo, sessão 7, 1547, ex cathedra: “Se alguém disser, que a água verdadeira, e natural não é da necessidade do Baptismo; por cuja causa converter em alguma parábola aquelas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: (João 3:5) se alguém não renascer da água, e Espírito Santo, etc.: seja excomungado.”55
O DOGMÁTICO CONCÍLIO DE VIENA (1311-1312)
Seria interessante saber, no entanto, o que São Tomás de Aquino teria dito se tivesse vivido até a altura do dogmático Concílio de Viena em 1311. São Tomás morreu em 1247, 37 anos antes do Concílio. O Concílio de Viena definiu infalivelmente como dogma que não há mais que um baptismo que deve ser confessado por todos os católicos, e que esse único baptismo é o baptismo de água.
Papa Clemente V, Concílio de Viena, 1311-1312, ex cathedra: “Por esta razão, deve ser confessado por todos os fiéis um único baptismo que a todos os baptizados em Cristo regenera, tal como ‘há um só Senhor e uma só fé’ [Ef. 4:5], que é celebrado em água em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; cremos que esse baptismo é comummente o perfeito remédio para a salvação tanto de adultos e como de crianças.”56
Esta definição é crucial para esta discussão, porque não se pode afirmar que há um baptismo de água e ao mesmo tempo continuar crendo que há “três baptismos,” dois dos quais não são de água. Isto é uma clara contradição. Aqueles que conhecem e compreendem este dogma têm de repudiar os assim-chamados “três baptismos.”
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Notas finais:
1 Pe. Jean-Marc Rulleau, Baptism of Desire, pág. 63.
2 Fr. Francois Laisney, Is Feeneyism Catholic?, Angelus Press, 2001, pág. 79.
3 Jurgens, The Faith of the Early Fathers, vol. 3: 1630.
4 Jurgens, The Faith of the Early Fathers, vol. 3: 69.
5 Catecismo Romano, Editora Vozes Limitada, 1951, pág. 231.
6 Jurgens, The Faith of the Early Fathers, vol. 3: 1536.
7 Jurgens, The Faith of the Early Fathers, vol. 3: 1717.
8 Jurgens, The Faith of the Early Fathers, vol. 3: 1496.
9 Citado por Pe. Jean-Marc Rulleau, Baptism of Desire, pág. 33.
10 Citado por Pe. Jean-Marc Rulleau, Baptism of Desire, pp. 30-31; também por Pe. François Laisney, Is Feeneyism Catholic?, pág. 61.
11 Ir. Robert Mary, Fr. Feeney and the Truth About Salvation, pág. 132.
12 Ir. Robert Mary, Fr. Feeney and the Truth About Salvation, pág. 133.
13 Pe. Jean-Marc Rulleau, Baptism of Desire, pág. 37.
14 Jurgens, The Faith of the Early Fathers, vol. 2: 1330.
15 Jurgens, The Faith of the Early Fathers, vol. 2: 1323.
16 Jurgens, The Faith of the Early Fathers, vol. 2: 1324.
17 Michael Malone, The Only-Begotten, pág. 404.
18 Jurgens, The Faith of the Early Fathers, vol. 2: 1330.
19 Jurgens, The Faith of the Early Fathers, vol. 3, pp. 14-15 nota de rodapé 31.
20 Jurgens, The Faith of the Early Fathers, vol. 2: 1012.
21 Dom Prosper Guéranger, The Liturgical Year, Fitzwilliam, NH: Loreto Publications, 2000, vol. 8, pág. 478.
22 Dom Prosper Guéranger, The Liturgical Year, vol. 8, pág. 475.
23 São João Crisóstomo, “The Consolation of Death,” Sunday Sermons of the Great Fathers, vol. IV, pág. 363.
24 São João Crisóstomo, “The Consolation of Death,” Sunday Sermons of the Great Fathers, vol. IV, pág. 363.
25 Hom. in Io. 25, 3 = PG 59 151-152; Citado por Pe. Jean-Marc Rulleau, Baptism of Desire, pág. 34.
26 The Nicene and Post-Nicene Fathers, vol. XIII, pág. 197.
27 The Catholic Encyclopedia, “Baptism,” Volume 2, 1907, pág. 265.
28 J. Corblet, Histoire du sacrement de baptême, (Paris: Palme, 1881), pp. 155-56; citado por Pe. Jean-Marc Rulleau, Baptism of Desire, pág. 36.
29 Dr. Ludwig Ott, Fundamentals of Catholic Dogma, St. Louis, MO: B. Herder Book, Co., 1954, pág. 309.
30 The Papal Encyclicals, vol. 1 (1740-1878), pág. 230.
31 Citado por Pe. Jean-Marc Rulleau, Baptism of Desire, pág. 37.
32 Citado por Pe. Jean-Marc Rulleau, Baptism of Desire, pág. 37.
33 Citado por Pe. Jean-Marc Rulleau, Baptism of Desire, pág. 37.
34 O Sacrossanto e Ecuménico Concílio de Trento, Tomo I, pág. 143.
35 O Sacrossanto e Ecuménico Concílio de Trento, Tomo I, pág. 177.
36 O Sacrossanto e Ecuménico Concílio de Trento, Tomo I,pág. 147.
37 O Sacrossanto e Ecuménico Concílio de Trento, Tomo I,pág. 121.
38 O Sacrossanto e Ecuménico Concílio de Trento, Tomo I,pág. 117.
39 Denzinger 1784.
40 Jurgens, The Faith of the Early Fathers, vol. 3: 1496.
41 Denzinger 696; Decrees of the Ecumenical Councils, vol. 1, pág. 542.
42 São Tomás de Aquino, Summa Theologica, Pt. III, Q. 14, Art. 3, Resposta à Obj. 1.
43 Michael Malone, The Only-Begotten, pág. 395.
44 Michael Malone, The Only-Begotten, pág. 70.
45 Denzinger 1837.
46 São Tomás de Aquino, Summa Theologica, Part III, Q. 66, A. 11.
47 São Tomás de Aquino, Summa Theologica, Part III, Q. 66, A. 11, Resposta 2.
48 Fr. Francois Laisney, Is Feeneyism Catholic?, pág. 9.
49 O Sacrossanto e Ecuménico Concílio de Trento, Tomo I, pág. 181; Denzinger 861; Decrees of the Ecumenical Councils, vol. 2, pág. 685.
50 O Sacrossanto e Ecuménico Concílio de Trento, Tomo I, pág. 181; Denzinger 861; Decrees of the Ecumenical Councils, vol. 2, pág. 685.
51 São Tomás de Aquino, Summa Theologica, Part III, Q. 66, A. 2, Obj. 3.
52 The Papal Encyclicals, vol. 1 (1740-1878), pág. 29.
53 The Papal Encyclicals, vol. 4 (1939-1958), pp. 178-179.
54 The Papal Encyclicals, vol. 3 (1903-1939), pág. 92.
55 O Sacrossanto e Ecuménico Concílio de Trento, Tomo I, pág. 179, 181; Denzinger 858.
56 Denzinger 482.
Do Livro: Fora da Igreja Católica Não Há Absolutamente Salvação