OBJECÇÃO — No seu livro The Catholic Church and Salvation [A Igreja Católica e Salvação], o Monsenhor Joseph Clifford Fenton indica que, enquanto somente os baptizados são de facto membros da Igreja, uma pessoa pode estar «dentro» da Igreja sem ser um membro. Logo, os não-baptizados podem ser salvos sem ser membros da Igreja Católica porque ainda assim podem estar «dentro».
Papa Pio XII, Mystici Corporis, #22, 29 de Junho de 1943: «Como membros da Igreja contam-se realmente só aqueles que receberam o lavacro da regeneração [baptismo de água] e professam a verdadeira fé...»1
Monsenhor Joseph Clifford Fenton, The Catholic Church and Salvation, 1958, pág. 10: «Além do mais, eles [os Padres do Quarto Concílio de Latrão] sabiam que não existe real pertença à Igreja militante no Novo Testamento, a verdadeira e única ecclesia fidelium [Igreja dos fiéis], senão através da recepção do sacramento do baptismo.»2
A «ASTUTA» EXPLICAÇÃO DE FENTON
Monsenhor Joseph Clifford Fenton, The Catholic Church and Salvation, 1958, pp 9-10: «Não é, e nunca foi, o ensinamento da Igreja Católica que somente os membros reais da Igreja podem obter salvação. Segundo o ensinamento do magistério da própria Igreja, a salvação pode ser obtida, e de facto foi obtida, por pessoas que, no momento da morte, não eram membros da Igreja. A Igreja, portanto, nunca confundiu a noção de estar “fora da Igreja” com a noção de ser um não-membro dessa sociedade.»3
RESPOSTA —Tal como é dito na objecção, Mons. Fenton admite que não se pode ser «membro» da Igreja Católica sem a recepção do Sacramento do Baptismo, mas ele afirma «astutamente» que estar «dentro» da Igreja (o que todos precisam fazer para se salvarem) não é a mesma coisa do que ser um «membro».
A Igreja Católica nunca ensinou o que Fenton diz sobre não-membros estarem dentro da Igreja. É precisamente por isso que ele não consegue citar nada do Magistério Católico Tradicional para sustentar a posição. Ele também afirma a falsidade descarada de que o Magistério da Igreja declarou que salvação pode ser obtida por pessoas que não eram membros da Igreja. Isto simplesmente não é verdade.
O Papa Pio XII destrói o argumento de Fenton e todo o seu livro ao ensinar que a Igreja é os membros!
FENTON CONTRADITO POR PIO XII
Papa Pio XII, Mystici Corporis Christi, (# 29), 29 de Junho de 1943: «… por fim, foi na árvore da Cruz que Ele adquiriu a sua Igreja, isto é, todos os membros do Seu Corpo Místico; pois que estes não seriam a ele incorporados pelas águas do Baptismo senão mediante a salutar virtude da Cruz, através da qual já estavam sob o pleno domínio de Cristo.»4
Repare que o Papa Pio XII equipara a Igreja com «todos os membros do Seu Corpo Místico»! Portanto, só os membros estão na Igreja! Posto que a Igreja é OS MEMBROS, e que não há salvação fora da Igreja, não há salvação fora do escopo dos membros. Mons. Fenton está simplesmente errado.
Para provar ainda mais o ponto, vejamos o Decreto da Justificação, Cap. 7, do Concílio de Trento.
FENTON CONTRADITO PELO CONCÍLIO DE TRENTO
Papa Paulo III, Concílio de Trento, Sess. 6, Cap. 7 sobre Justificação: «… por onde… recebe o homem, por Jesus Cristo, em que está enxertado, todos estes dons infusos ao mesmo tempo, Fé, Esperança, e Caridade, infundidos juntamente com a remissão dos pecados. Porque a Fé não se lhe juntando [ao menos que se lhe junte] a Esperança, e Caridade, nem une perfeitamente com Cristo, nem faz o Fiel membro vivo seu…»5
O homem justificado está enxertado em Cristo. O conceito de estar «enxertado» é, uma vez mais, o de pertença: todos os justificados são enxertados em Cristo como membros. Isto é provado pela declaração do concílio que afirma que ser um membro vivo da Igreja não acontece «ao menos» («nisi») que à Fé sejam ajuntadas a Esperança e a Caridade. Isto significa que, a Esperança e a Caridade, se e quando são ajuntadas à Fé, fazem da pessoa um membro vivo da Igreja. Ora, Esperança e Caridade são ajuntadas à Fé em todas as pessoas justificadas.
Uma pessoa recebe simultaneamente a Fé, a Esperança e a Caridade infusas na alma no momento da justificação, como Trento diz acima. Logo, cada pessoa que é justificada, visto que todas têm Fé, Esperança e Caridade, tornam-se membros vivos («vivum membrum») da Igreja. Isto contradiz totalmente o ensinamento de Mons. Fenton e da Suprema haec sacra, que afirma que uma pessoa pode ser justificada pelo baptismo de desejo (e, portanto, pode possuir Fé, Esperança e Caridade) sem ser «membro» do Corpo de Cristo. Mons. Fenton está simplesmente errado.
FENTON CONTRADITO PELO VATICANO I
Papa Pio IX, Primeiro Concílio do Vaticano, Sess. 4, Cap. 2: «Por este motivo, “fora sempre necessário por causa da maior preeminência que cada Igreja venha à Igreja de Roma, isto é, aqueles que, por toda a parte, constituem os fiéis,” de modo que esta Sé, da qual as leis de “venerável comunhão” sobre todos emana, sendo eles MEMBROS associados numa só cabeça, unam-se numa só estrutural corporal.»6
O Vaticano I define infalivelmente que a comunhão emana sobre «todos» desde a Sé de Roma. «Todos» o quê? «Todos» na Igreja, claro. Vaticano I: «todos… sendo eles membros associados numa só cabeça» formam uma estrutura corporal. Todos na Igreja são «membros»! Face a este ensinamento infalível do Vaticano I, os defensores de baptismo de desejo que propõem o argumento de Fenton são forçados a argumentar que a comunhão não emana da Sé de Pedro sobre «todos» na Igreja, mas somente sobre aqueles na Igreja que são membros! — não sobre os «outros» que supostamente estão dentro da Igreja sem serem membros! Isto é tão ridículo e patentemente absurdo que não requer mais comentários senão dizer: provou-se uma vez mais que Mons. Fenton está errado.
Outros textos e pontos poderiam ser levantados para refutar ainda mais Fenton, tal como fiz de modo extensivo no nosso sítio de Internet. (Aquele artigo em particular também demonstra que a definição do próprio Fenton de «membro» e «parte» serve para refutar a sua contenção de que uma pessoa pode estar dentro de algo sem ser membro ou «parte» dessa coisa). A verdade é que o argumento de Fenton é completamente falso e contrário ao ensinamento destes Decretos Magisteriais. Isto também prova que o ensinamento de Suprema haec sacra (a carta de 1949 contra o Pe. Feeney, a qual a SSPX, SSPV e a CMRI aderem) a qual Fenton defende (e que iremos abordar de modo detalhado em artigos posteriores) é contrário ao ensinamento da Igreja Católica, pois este ensina a mesma coisa que Fenton ensinou sobre pertença à Igreja.
«Cardeal» Marchetti-Selvaggiani, Suprema haec sacra, «Protocolo 122/49», 8 de Agosto de 1949: «Portanto, para que uma pessoa possa obter salvação eterna, nem sempre é necessário estar de facto incorporado na Igreja como membro, mas é necessário que pelo menos ele esteja unido a ela por desejo e aspiração.»